Enviado por Murillo de Aragão - 14.6.2012 - 13h02m
POLÍTICA
Malafaia não é candidato a nada e pode ser candidato a tudo
Em uma boa entrevista à Veja algumas semanas atrás, o pastor Silas Malafaia confirma ser uma pessoa polêmica, mas de posições firmes e claras. Porém, afora as declarações polêmicas, que fazem o prazer da imprensa e do leitor superficial, Malafaia diz algumas coisas muito importantes na entrevista. Uma delas é o fato de acreditar que os pastores podem ter papel político, sim.
Malafaia refuta a intenção de o religioso ser jogado de lado no debate político. Defende que todos podem fazer política, inclusive os religiosos. Vale destacar que ele usa o termo "religiosos" ao invés de "pastores".
Outra afirmação forte é a de que nunca será candidato a nada. Mas diz que quer influenciar as pessoas e que "não sataniza partido político nem candidaturas".
Em suas pregações, Malafaia embute muitas reflexões de natureza política, e não apenas no que tange a questões como o aborto ou o homossexualismo. Suas afirmações demonstram que ele é mais do que um pastor; é uma personalidade política com sofisticação em suas articulações.
Com esse tipo de pregação, Malafaia pode ter um imenso potencial eleitoral. Até mesmo pelo fato de que sua vida, pelo menos o que se sabe dela, não envolve nenhum aspecto que entre em contradição com sua pregação.
Com o destaque ganho na seção Páginas Amarelas, Malafaia comprova ser uma das personalidades mais influentes do país nos dias de hoje. E, ao usar essa sua influência para abdicar da possibilidade de ser candidato, prepara-se para ser um poderoso cabo eleitoral. Talvez o mais influente de todos para as eleições de 2014 dentro do mundo evangélico.
Porém, ser candidato presidencial, ou não, não é uma questão simples nem de natureza pessoal. Malafaia, ao dizer que não é candidato a nada, torna-se mais forte ainda como potencial candidato a tudo.
É evidente que uma candidatura presidencial não nasce de uma hora para outra. Tem de amadurecer e depender das circunstâncias políticas e econômicas.
Considerando que o "lulismo" deve ter fôlego para mais uma eleição presidencial, pelo menos, o quadro para 2018 ainda apresenta alguns lugares disponíveis. Em especial, no espectro da "centro-direita" e da "direita".
Outro ponto relevante é que existe um potencial eleitoral entre os evangélicos que nunca foi adequadamente explorado com a constituição de um partido. Um partido com base em princípios do cristianismo que poderia ultrapassar os próprios limites dos evangélicos.
Por suas múltiplas denominações e divisões, fica difícil acreditar que os evangélicos marchariam unidos ao largo de preferências partidárias "seculares".
Porém, podem servir de base a uma agremiação partidária forte, assim como os metalúrgicos do ABC foram a base original do PT, que há muito é um partido que aglutina trabalhadores, profissionais liberais, empresários, líderes do terceiro setor, burocratas, entre outros.
É de considerar o fato de que Malafaia tem uma pregação que ultrapassa os arraiais do mundo evangélico. E que tal pregação, fundada mais em valores do que em religiosidade, pode levá-lo a adquirir uma situação política ainda mais forte em seu segmento, e respeitável fora dele.
No mundo evangélico, Malafaia não é o único protagonista. Waldemiro Santiago e Edir Macedo são seus potenciais "concorrentes". No entanto, Edir Macedo e seu PRB não conseguem deixar de ser vistos como uma força da Igreja Universal, e não dos evangélicos como um todo. Santiago ainda não tem uma estratégica política clara.
Sendo assim, nenhum dos concorrentes de Malafaia tem um discurso tão forte e com tanto potencial político no cenário de médio e longo prazos quanto o seu. E com capacidade de articular uma candidatura e/ou um partido com base evangélica e alcance no mundo católico que seja competitivo ao final da década.
Murillo de Aragão é cientista político
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